Mais uma lista educativa: a dos piores filmes de 2014. O site Vulture compilou algumas votações de vários críticos e elegeu A Million Ways to Die in the West como a grande porcaria do ano passado. Eu já tentei ver o longa umas cinco vezes, mas simplesmente não passo dos primeiros dez minutos. Alguma coisa sempre me interrompe – e nem estava detestando tanto assim. Agora eu me sinto obrigado a assistir ao jogo cômico de Seth MacFarlane. Droga.
Vale a pena dar uma passada de olho nos títulos escolhidos. Há os suspeitos de sempre, como Transformers: Age of Extinction, Sex Tape, Teenage Mutant Ninja Turtles, Winter’s Tale e Left Behind. Sem dúvida, unânimes em arrebanhar desafetos e fazer a turma perder algumas horas de vida.
Porém, algumas escolhas surpreendem porque trazem obras consagradas, que estão comumente associadas aos melhores de 2014. Então você topa com Birdman, Foxcatcher e Maps to the Stars, todos saudados como os cavalos puros-sangues do ano que passou, mas jogados no lixo por alguns especialistas.
Mas ninguém ganha de Richard Brody, o crítico da New Yorker. Eu sempre admiro o que ele escreve, apesar de discordar muitas vezes de seus gostos sobre o cinema contemporâneo. Ele detestou Mommy e Whiplash, dois que eu coloco no meu panteão das películas (ou digitais) mais supimpas dos últimos meses. Isso é ótimo. Pior: os argumentos que ele usa são excelentes e muito bem escritos. Então, lá vamos nós pensar numa defesa caprichada quando perguntarem por que gosto tanto desses dois pangarés (segundo o Brody).
Infelizmente não tenho todo o tempo do mundo para ver pelo menos uma parte do lixo que invade as salas de cinema do planeta. Alguns de fato nos ajudam a entender a qualidade dos nossos favoritos; outros simplesmente são tão idiotas que nos divertem.
Na lista geral do site, creio que não há nenhuma dúvida: são filmes horríveis (tá, eu não colocaria o Sin City: A Dame to Kill For). Já nas particulares, aparecem as idiossincrasias e provocações. Porque existem longas de fato péssimos, como Transformers, mas outros ruins com momentos geniais. Gosto muito dessa distinção.
Mommy, por exemplo, pode ser insuportável para muitos, mas aquela sequência com Wonderwall é magnífica.
Quantos minutos de ruindade um filme precisa ter para ser considerado “um dos piores”? Será que poucos minutos de grandiosidade artística salvam uma obra do limbo, mesmo se ela for péssima?
Meu filme ruim preferido dos últimos anos é Alexander, de Oliver Stone. Sei de todos os problemas do roteiro, de interpretação, de montagem etc. Mas aquelas cenas de batalha ainda precisam ser revistas e estudadas. Um espetáculo fascinante e ousado.
Então, sendo radical, um filme só pode ser “o pior do ano” se não apresentar nenhuma sequência interessante, nada pra gente lembrar, nenhuma imagem marcante, nenhum diálogo sacado, nenhuma atuação memorável, nada. Temos que simplesmente achar o treco de uma nulidade exemplar.
Meu voto vai para O Candidato Honesto (já escrevi aqui sobre ele). Tenho certeza que ele coloca qualquer um (qualquer um mesmo) dessa lista da Vulture no chão. Talvez seja o pior filme de 2015 e 2016. Já.
Engraçado imaginar que, assim como A Million Ways…, O Candidato Honesto também é uma comédia (cof, cof). As comparações param por aí. Se a régua dos piores passasse necessariamente pelo filme brasileiro, creio que a obra norte-americana entraria na lista dos melhores do ano (e, lembre-se, só vi dez minutos dele).
Eu sei que existem coisas tenebrosas em qualquer cinematografia, mas se começarmos a vasculhar e comparar as listas dos piores, vamos ficar chocados como um Transformers pode virar obra-prima.
Filmes ruins podem ser tremendamente educativos – e enormes sucessos de bilheteria. Discutir o lixo é útil para melhorar nossa dieta.
Você é capaz de encontrar neste instante centenas de endereços com eleições das piores produções gringas do ano passado. Mas não há quase nada dos nossos críticos listando os piores brasileiros. Por quê? Sei lá. Mas isso parece representar algo.

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