MIGUEL GOMES
A melhor revista cultural em língua portuguesa distribuída no Brasil – depois da morte da Bravo! – é oferecida gratuitamente na Livraria Cultura e leva o nome de Ípsilon. Originalmente encartada no jornal Público, de Portugal, sempre traz amplas reportagens, entrevistas e toda aquela maviosa língua portuguesa da terrinha (é sério que alguém caiu nessa história de “reforma ortográfica”?).
Na edição de fevereiro, além da pertinência de trazer o grande Michel Houellebecq na capa, há uma magnífica entrevista com o cineasta português Miguel Gomes, de Tabu. Ele explica com muitos detalhes como serão seus próximos “três filmes”. Na verdade, o trabalho mais recente dele se chama As Mil e Uma Noites e reúne seis horas e meia de material, distribuído em três volumes que formam apenas um longa.
O projeto se desenvolveu durante um ano e contou com um roteiro sendo escrito a cada semana. Foi uma espécie de Boyhood ainda mais ambicioso e, acredito, maravilhoso. O investimento foi feito na ideia e não no texto.
Apesar de ainda acreditar que no papel tudo parece mais sólido e saboroso, você consegue os imperdíveis pensamentos de um dos melhores diretores do mundo hoje neste sítio. Há momentos sublimes sobre a importância do cinema e da narrativa ficcional.
Uma das melhores entrevistas sobre ficção, realidade e arte que li recentemente.
BETTER CALL SAUL
Começou. Todos nós já podemos palpitar sobre os primeiros dois episódios de Better Call Saul, o spin-off de Breaking Bad. As semelhanças gerais com a série de Vince Gilligan são óbvias: homem vilipendiado pela sociedade resolve se meter com o crime para ganhar alguma grana.
Eu sou um amante dos prólogos (em qualquer área). E essa primeira parte parece seguir o esmero e a qualidade de Breaking Bad. Os primeiros minutos do piloto, num preto e branco brilhante, é antológico. Toda aquela melancolia, medo e lentidão remetem a um triste policial noir. A escolha dos ângulos e lentes são preciosas. Um desbunde.
E Bob Odenkirk é gênio.
VAMOS COZINHAR?
Aproveitando o tema, há um livro bem bacana nas estantes. Abaixo, resenha publicada na revista Rolling Stone sobre Vamos Cozinhar? (Leya), de Ensley F. Guffey e K. Dale Koontz, guia que compila os episódios de Breaking Bad.
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Sete anos depois da estreia de Breaking Bad, o culto à série do pacato professor de química que vira traficante da pesada só aumenta. O spin-off com as aventuras do advogado Saul e os ensaios e análises sobre a influência dos personagens e episódios criados por Vince Gilligan mostram a força de Walter White (também conhecido como Heisenberg), que junto com Don Draper (Mad Men) e Dexter viraram símbolos do anti-herói norte-americano.
Os autores (marido e mulher) de Vamos Cozinhar? exploram num texto divertido e informativo todos os detalhes que transformaram Breaking Bad num marco. É menos um guia de episódios e mais um delicioso almanaque para os fãs e para quem se interessa pela construção de um produto televisivo. Capítulo por capítulo, acompanhamos como foram as escolhas das histórias e locações, quais as curiosidades e se o que acontece na tela pode ocorrer na realidade – há interessantes explicações sobre o lado científico dos episódios. Também é possível encontrar competentes análises que esclarecem por que Breaking Bad gerou tanta química entre seus personagens e a audiência.

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