“Velozes e Furiosos 7” é estúpido, apelativo e espetacular

furious 7

A Pixar comeu bola. Fez Carros e Aviões, filmes separados, quando todo mundo sabe que o mais legal é ter carros que voam numa mesma sessão de cinema. Velozes e Furiosos 7 nos faz ter novamente 15 anos de idade e isso é o melhor elogio que posso encontrar. Não, é bem mais interessante: em muitos momentos a gente fica com quatro anos de idade, feliz da vida ao perceber que a gravidade funciona. Permanecemos durante todo o filme com o sorriso do garotinho que, do alto de seu cadeirão, joga objetos no chão e emporcalha o ambiente.

O episódio anterior da franquia era bem terrível (apesar que nunca vou esquecer aquela pista de decolagem que era do tamanho da via Dutra). O cinco tinha todo o lance carioca e não lembrava muito dele até ver o que escrevi na época. Blog é bom para essas coisas. Num impulso, você registra pensamentos. Logo vai se arrepender de grande parte deles, mas assim é a vida.

Mas esse Velozes 7 já entra como um dos filmes mais bacanas do ano. As imagens exalam um imenso prazer. O diretor James Wan gosta da coisa e em cada perseguição sentimos o quanto o sujeito deveria estar com tesão. Seus planos abertos, a interrupção na trilha e o brilhantismo com que arremessa tudo pelos ares representam o que penso sobre diversão. Coisas estão em queda livre todo o tempo, como se ele quisesse testar a teoria de Newton usando carros e corpos em vez de maçãs (aqui um físico explica que as cenas mais impossíveis são justamente as mais plausíveis).

O MacGuffin que faz tudo andar é uma porcaria. E daí? Longe de mim querer um roteiro complexo que interromperia a ação para algum tipo de reflexão ou frase mais elaborada. O negócio é o seguinte: a turma tem que se reunir para fazer um último trabalho e pegar o super vilão (Jason Statham, divertidíssimo – e esperem para ver o que ele faz em Spy).

Pra isso, vão se enfiar em três imensas perseguições. A primeira, nas montanhas do Cáucaso, traz a natureza como empecilho. Árvores e desfiladeiros aumentam a tensão e jogam tudo ladeira abaixo. A segunda, em Abu Dhabi, acontece nas alturas do pensamento humano, em prédios que teimam em fazer cócegas no céu. Lá não existe natureza, mas sim a estranha arquitetura do homem. A derradeira só poderia ocorrer em Los Angeles e mistura as duas outras. Afinal, ali está outra cidade no deserto, mas que não é habitada apenas por príncipes e se encaixa muito bem no quesito “selva de pedra”.

Tudo parece sincronizado e real. Eu me sentia vendo uma daquelas comédias do Buster Keaton ou Harold Lloyd, ficando aflito com uma possível queda. A corda da tensão é esticada e a soberba montagem nos coloca como passageiros das perseguições. Grua, travellings e a correria arremessam uma impressionante engrenagem de emoção. Sem contar as brigas de rua e coreografia de filme chinês de luta marcial, como se James Wan sempre quisesse nos lembrar que pancadaria boa é aquela feita de punhos e aço.

Como se não bastasse a excelente técnica, o filme ainda tem um coração. A morte de um de seus astros, Paul Walker, aos 40 anos, num acidente de carro ano passado, paira durante toda a projeção.

Ficamos preocupados porque carros matam de verdade. Parece que a qualquer momento alguém pode se ferir. É muito diferente de ver os heróis da Marvel, Avatar ou qualquer desses blockbusters que arrebentam cidades inteiras.

Alienígenas não conseguem nos ferir. Nem sabemos se eles existem. Mas carros, meus amigos, matam (e recomendo aqui a maravilhosa HQ Autocracia, de Woodrow Phoenix).

A boa resolução nos enche de lágrimas. Eu vivi para chorar ao ver Vin Diesel se despedir de um amigo.

Só um meio tão rico, barulhento e circense como o cinema para lidar de forma tão maravilhosamente baixa com nossos instintos.

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