Se eu fosse responsável por criar um método de avaliação de séries de TV, eliminaria as tais estrelinhas, quadradinhos ou outros sinais gráficos e inventaria uma classificação assim (em ordem crescente de qualidade):
• Nem se estiver com dengue e só tem isso pra ver e passar o tempo
• Vale baixar e ver um ou outro episódio
• Baixe tudo e veja aos poucos
• Baixe, compre os DVDs e fique discutindo as cenas preferidas na internet
• Agradeça de joelhos por ter a oportunidade de estar vivo e assistir a algo assim
• Louie
Resumindo: existem séries de TV ruins, boas e espetaculares; e existe Louie.
No meio da sua quinta temporada, já podemos dizer que a atual leva trata, no geral, do envelhecimento. Em todo episódio, em algum momento, você vai conferir um embate (às vezes no braço mesmo) entre o protagonista e a juventude.
Cansei de escrever aqui que essa obra-prima do comediante Louis C.K. é a melhor “coisa” da TV. Sim, é inclassificável. Impossível não mencionar uma meia dúzia de “what the fuck?” durante os 21 minutos de cada capítulo.
Não adianta especular, pensar, raciocinar ou quebrar a cabeça sobre o que vem a seguir. Louie sempre vai te surpreender.
Escrita, protagonizada, dirigida e editada pelo mesmo cara, é um espetáculo audacioso, brilhante, engraçado e artisticamente elevado (até nos momentos mais baixos). É difícil falar em arte na TV (ou em qualquer lugar), mas acho que muitas vezes Louis C.K. toca em algo parecido com isso.
O pulo do gato da série é não apenas brincar com temas (não é sitcom, não é série, não é de procedimento, não é nada, mas é tudo), como também implodir as estruturas de narrativa. Cada início é diferente, às vezes rola abertura, em outros momentos vamos direto ao ponto; um episódio começa com um esquete; outro se inicia numa peça de teatro; alguns são surreais; outros são surrealmente reais. E assim seguimos.
Louie é a série que todo roteirista (diretor, ator, executivo) deveria almejar fazer um dia. Por uma simples questão: é a série mais livre em exibição na TV.
Com seis episódios já exibidos nessa quinta temporada, listo abaixo apenas algumas boas sequências de cada episódio. Não se preocupe com spoilers porque não é assim que esse espetáculo funciona. Libere sua mente.
1 POTLUCK
O monólogo que abre essa temporada (sobre a indiferença que Louie tem por vida extraterrestre) indica com muita graça todo o desenvolvimento da atual fornada: como olhar pra fora sem antes descobrir o que acontece aqui dentro? Não à toa as primeiras sequências mostram o protagonista no analista (que, aliás, dorme profundamente ao ouvir as mazelas da alma do paciente). O momento mais surpreendente fica por conta de uma trepada casual. Louie pega uma grávida e, durante o sexo, o bebê nasce. E há um tocador de banjo que faz uma espécie de trilha ao vivo.
2 A LA CARTE
Talvez o melhor episódio até agora, com o início mais engraçado de uma série nos últimos anos (o esquete do cocô). O diálogo que dá título ao capítulo é fascinante e cortante. Deveria ser exibido em toda terapia de casal. E o que falar sobre a sequência no cinema “de arte”?
3 COP STORY
O começo, com Louie sendo esnobado por uma jovem vendedora, é enganador. Há bastante leveza e estranhamento (o que é aquele beijo no manequim?). A força começa mesmo do meio para o final, quando o amigo perde a arma. Louis C.K. mostra total controle de sua capacidade dramática. Em dez minutos, passamos por 777 níveis diferentes de emoção em relação ao policial. Vamos da raiva para ternura em cinco segundos. Genial.
4 BOBBY’S PLACE
Que maravilhosa inversão de papéis e expectativas. A cena absurda de Louie sendo espancado na rua por uma mulher nos leva para uma sequência de transformismo e jogo sexual. Outra obra-prima do “what the fuck”.
5 UNTITLED
Parece sempre impossível, mas não, Louie consegue fazer mais um episódio inclassificável. Só o Deus Roteirista sabe o quanto e difícil escrever algo de fato parecido com um sonho, pra gente assistir com os olhos meio fechados. Indescritível. Uma das melhores experiências na TV hoje.
6 SLEEPOVER
Só a história da cabra já valeria oferecer uns milhões para Louie jamais parar de fazer sua série. Mas ainda há trechos da mais deslavada e sacana comédia romântica e o início com participações de Matthew Broderick, Glenn Close, John Lithgow e Michael Cera – que culmina no mais delicioso embate de gerações do ano.

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