Filmes longos para uma vida curta

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Em um trecho de Nós, de David Nicholls, o narrador se pergunta se “desde o tempo dos gregos, alguém já saiu de uma peça de teatro dizendo: ‘Eu queria apenas que fosse mais longa!’”.

É só mais uma das engraçadas provocações de Douglas, o bioquímico que enfrenta o fim do casamento enquanto viaja com a provável ex-mulher e o filho deles pela Europa.

Ágil, esperto e melancólico, o livro é irresistível. Apesar da referência ao teatro ser sarcástica (e desmontada na sequência), eu fiquei pensando na frase. Tirando um ou outro Antunes Filho, não me lembro de alguma vez ter desejado que peças durassem muito mais do que aquela hora e meia de encenação.

Talvez eu pudesse ter essa sensação com os trabalhos do Zé Celso também. Mas como ele já deixa tudo durando dias, conseguimos pular esse sentimento. Apesar que uma vez, no século passado, assisti a um ensaio de Ham-let que teve nove horas de duração (o primeiro ato terminou depois de três horas e quinze minutos). Acho que serviram refrigerante, vinho e sanduíches de queijo nos intervalos. Eu e o Tiago, o amigo que me acompanhou na aventura, não só adoramos o espetáculo, como ficaríamos mais uns dois dias lá no Sesc Pompéia. De certa forma tentamos prolongar o amor que sentimos pelo teatro ao decidir montar O Rinoceronte, de Ionesco. Não me perguntem onde esses sonhos começam nem onde foram parar.

Porém, quando penso nos filmes, enumero pelo menos uma centena de títulos que poderiam ter várias horinhas a mais e eu não reclamaria nadinha. Na verdade, eu estaria até agora sentado na poltrona vendo Os Bons Companheiros, E.T., Laranja Mecânica, Lawrence da Arábia, Cantando na Chuva, Casablanca e pode chutar aí muitos e muitos outros.

Não me importaria em continuar seguindo a rotina de Henry Hill depois que dedou todo mundo. Também gostaria de acompanhar as peripécias de Rick Blaine após – mais uma vez – largar o grande amor.

Recentemente eu gritei um “ahhhhhh!” quando o filme Jurassic World terminou. Na hora que os créditos finais apareceram, uma garotinha ao meu lado subiu na cadeira e berrou: “De novo!”. Acho que é aquela sensação que vocês corajosos têm quando o carrinho da montanha-russa para depois de ter revirado sua existência toda. Você quer entrar na fila de novo. E de novo.

Esse é o tipo de cinema que Spielberg consegue produzir tão bem. A direção de Colin Trevorrow ajuda, criando os universos com calma, nos mostrando os rostos dos personagens e deixando a trama ser poluída por três elementos fundamentais: crianças, um charmoso casal em conflito, monstros. Aqui um pequeno perfil do sujeito.

Outro filme que pra mim poderia continuar com mais algumas gags: A Espiã que Sabia de Menos (aqui resenha na RS). Além do roteiro amarradinho de Paul Feig, temos Melissa McCarthy solando de maneira extraordinária, mostrando por que talvez seja a melhor atriz cômica em atividade no planeta.

Achar que um filme deveria ser mais longo é um ótimo sinal, principalmente agora que alguns longas chatos (exemplo: Vingadores – Era de Ultron) têm mais de duas horas de duração – provavelmente para compensar o preço do ingresso.

Na TV, essa espécie em extinção, nem preciso comentar que Mad Men deveria durar pra sempre. E vale mencionar também que o brilhante esquete 12 Angry Men Inside Amy Schumer (trecho abaixo), baseado em Doze Homens e Uma Sentença (1957), de Sidney Lumet, serve de exemplo da capacidade criativa da TV dos EUA e nos deixaria presos no sofá por mais vários minutos.

Enfim, muitas coisas poderiam ser mais longas nessa vida tão curta.

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