Para gáudio de José Padilha, muita gente está se manifestando sobre Narcos. Dos veículos que ainda se interessam por uma análise bem escrita e fundamentada, ele ouviu diversos elogios e a série alcançou bons índices de satisfação. Outros lugares, principalmente no Brasil, resolveram atacar o sotaque do Wagner Moura e a ficção dos episódios, questionando a veracidade dos fatos (como se Narcos tivesse a obrigação de ser uma reportagem do Fantástico).
De qualquer maneira, Padilha saiu ganhando. Outro dia conversei com um youtuber que se gabava de ganhar muita grana graças aos haters, que o colocam na lista dos mais comentados e clicados. Isso faz com que as agências de publicidade fiquem de olho nas ações do moleque e arremessem dinheiro na conta bancária dele. É o famoso “falem mal, mas falem de mim” abraçado pelo capitalismo.
Enquanto o império dos cliques ser mais importante que as análises fundamentadas e complexas, as coisas vão funcionar assim. Recomendo a leitura desse artigo de Matt Zoller Seitz sobre a possibilidade da gente “desclicar” páginas.
Ainda não vi todo Narcos (estou na metade), mas já acho a melhor coisa que Padilha realizou na carreira. Gosto da produção, da direção de arte, da câmera e da narração em off. A história é fenomenal e merece ser contada. Alguns momentos mais didáticos (o episódio cinco é especialmente pouco empolgante e bobinho) e certos clichês não prejudicam a diversão.
Mas o mais interessante é observar um monte de gente assistindo pela primeira vez a uma série da Netflix apenas para derrubar o brasileiro José Padilha e o astro Wagner Moura. Por quê? Se a série fosse dirigida por um norte-americano e protagonizada pelo Al Pacino, talvez as críticas positivas no Brasil fossem a maioria. Não sei. É apenas uma tese chutada. Porém o tom de alguns veículos é nitidamente de recalque.
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Curiosamente também há um projeto bilíngue (só que português/espanhol) capitaneado por brasileiros atualmente no ar num canal conhecido pela qualidade de suas produções. E, assim como Narcos, também fala muito sobre a capacidade de diretores brasileiros saírem da toca e se conectarem com o mundo latino-americano.
O Hipnotizador, baseado em quadrinhos de Pablo de Santis e Juan Sáenz Valiente, com direção de Alex Gabassi e José Eduardo Belmonte, é por muitas vezes arrebatador. Ainda é difícil fazer uma análise mais profunda por causa dos poucos episódios já lançados, mas pelo menos a direção respeita o telespectador como nenhum outro projeto da HBO Brasil até hoje.
Há um nítido refinamento na linguagem (a direção de arte é um desbunde) e diálogos com diversas referências. Enfim, existe um “pensamento” atrás de cada plano. Coisa rara nas séries brasileiras, que precisam correr por causa da falta de dinheiro, tempo, recursos etc.
Merece tanta atenção (ou mais) quanto Narcos.

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