E agora? O que acontece quando você achava que tinha abandonado uma série e ela reaparece da forma mais extraordinária? Já não existem shows suficientes pra gente seguir e experimentar? Malditos roteiristas norte-americanos, sempre prontos para roubar aquele restinho de tempo da nossa miserável vida.
O primeiro episódio da segunda temporada de The Leftovers trouxe não apenas uma abertura diferente e fora do tom da primeira leva de episódios; apareceu também com nove primeiros minutos arrebatadores, estranhos e esteticamente deslumbrantes. Como resistir?
Pior: o que pensar sobre esses nove minutos?
Eu revi algumas vezes esse pequeno milagre. Por instantes imaginei que estavam passando o filme A Árvore da Vida, do Malick, no lugar da série comandada pelo Damien Lindelof. Ou então era algum curtinha experimental que logo seria explicado pelos personagens da primeira temporada.
Nada disso. Foi tudo fresquinho e ainda mais intrigante. De repente estávamos numa cidade bem longe daquela que largamos no final da temporada anterior, vivendo novas histórias e dramas.
Os roteiristas simplesmente encontraram um outro jeito de se aproximar do telespectador. Uau.
Eu escrevi lá no parágrafo inicial que é uma desgraça ter que dar uma chance a um projeto que pretendíamos esquecer. Bem, confesso que lancei essa apenas para chamar a atenção. Sou fã de The Leftovers (aqui um elogio) e naturalmente iria embarcar na brincadeira. Mas, sério, como não reavaliar algumas opiniões depois dessa fenomenal retomada?
Pra quem não se lembra, essa é a série baseada no livro do Tom Perrotta (ano passado ele veio para o Brasil e falou para meia dúzia de pessoas em São Paulo), que relata o que aconteceu com o mundo depois que 2% da população simplesmente desaparece. Perrotta também é criador e roteirista da série.
Se a primeira temporada focava na vida pós-trauma de uma cidadezinha do Estado de Nova York, agora fomos parar no Texas. E não apenas geograficamente as coisas mudaram de lugar. Antes, vivíamos num canto como outro qualquer, danificado emocionalmente pela tragédia, convivendo com novas seitas, especulações e dor (aliás, os primeiros episódios eram doloridos e – muito – deprimentes). Agora, entramos num dos lugares do mundo onde ninguém desapareceu. Oi? É isso aí. Não sabemos se é a água, os tremores de terra, a fé da população local, o fato é que Jarden continua com todos os seus quase dez mil habitantes com os pés firmes na Terra.
Segundo a crítica Margaret Lyons, que viu os primeiros três episódios, parece que a turma do “deixa pra depois” terá que olhar a primeira temporada porque o show promete ser um marco.
Para os roteiristas, a dica é ler esse artigo com o showrunner da série, Damien Lindelof. Aí entendemos que tudo isso só pode acontecer porque a equipe criativa (os escritores) tem total liberdade para brincar com seu material.
Vejam as explicações (e as não explicações também) que ele oferece sobre o conceito do show e como puderam seguir livremente com seus pensamentos.
É uma alegria saber que lá o roteirista pode se dar bem ou quebrar a cara sem precisar colocar a culpa no diretor ou produtor.

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