Steve Jobs

jobs

Apesar de ótimos concorrentes (com a exceção de Tarantino, que estava na disputa com um de seus trabalhos menos inspirados), não foi surpresa pra ninguém a vitória de Aaron Sorkin e seu texto para o filme Steve Jobs, dirigido pelo inglês Danny Boyle, na categoria de melhor roteiro no último Globo de Ouro.

O filme é uma delícia. Suas duas horas duram 15 minutos e a musicalidade dos diálogos contribui para que o público esteja sempre relaxado, mas atento. A quantidade ideal de informações no momento correto faz com que uma eterna tensão percorra toda a obra.

Há várias coisas impressionantes no roteiro de Sorkin. Muitas delas são óbvias: a sagacidade das frases, a estrutura em três atos e o foco na paternidade de Lisa que Jobs teimava em negar.

Mas o que mais chama a atenção é: caramba, o filme é uma biografia! Talvez o gênero mais desgraçado para qualquer roteirista.

Como dar conta de uma vida em duas horas? E de uma vida fascinante, conturbada e popular como a de um sujeito que mudou o mundo?

Tenho arrepios só de pensar num produtor falando: “Tome aqui esse livro. É a história do Getúlio Vargas. Transforme num filme”.

Qual recorte devemos escolher? O que deixar de fora? Lidar com o real é uma eterna aporrinhação. Os familiares do biografado vão opinar, os estudiosos ficarão no seu pé pra sempre, os fãs querem te mandar e-mails na madrugada. Deve ser um pesadelo.

Sorkin partiu do excelente livro de Walter Isaacson. Legal, mas sabemos que isso não garante nada. Guilherme Fontes (só pra gente pegar no pé) tinha nas mãos Chatô, do Fernando Morais. Além do tijolo ser espetacularmente bem escrito, há uma das grandes aberturas da história das nossas biografias literárias. Mas ao querer abarcar tudo, apesar de alguns momentos interessantes, Fontes fez um filme excessivo e por vezes insuportável.

Mas deixando Chateaubriand e voltando para Jobs (apesar que a experiência de assistir aos dois e fazer a comparação é válida), cada dia mais sinto que uma grande biografia de uma personagem histórica deve partir de um determinado recorte (e quanto menor, melhor).

Para conhecer o homem, precisamos apenas de um foco. Ao narrar em três atos como foi o processo de aceitação da paternidade de uma de suas filhas, entendemos como de fato Jobs era complexo, irascível, mesquinho e… zeloso.

Creio que foi o roteirista Robert Towne que disse que um filme é composto por quatro ou cinco cenas entre dois personagens. O resto é perfumaria.

(Sem preguiça, aqui vai a citação original: “A movie is really only four or five moments between two people; the rest of it exists to give those moments their impact and resonance. The script exists for that”.)

Então Sorkin colocou Jobs e Lisa em situações extraordinárias. Como pano de fundo, os lançamentos de alguns de seus produtos e sua visão sobre a tecnologia e a humanidade.

Claro, um elenco formidável (Fassbender e Kate deveriam fazer mais uns 37 filmes juntos) ajuda. E Danny Boyle dá um ritmo invejável a cada sequência.

O roteiro do filme está na rede e tem esse pique enlouquecedor, mas límpido, essencial para escrevermos bons diálogos. Vejam esse bate-bola, logo no início do filme, quando Jobs e sua chefe de marketing, Joanna, encontram Lisa (a filha “ilegítima”) e a mãe da menina (Chrisann):

*

INT. STEVE’S DRESSING ROOM – CONTINUOUS

STEVE 
- You remember Joanna Hoffman, she’s the head of marketing for the Mac.

CHRISANN – Good to see you.

JOANNA
- Nice to see you. Hello, Lisa. We’ve met before and you told me you liked the way I talked and that was my favorite thing anyone’s ever said to me.

LISA – You’re from Poland.

JOANNA
- Yes I am. Do you know where that is?

LISA
- (pointing to the top of na imaginary globe) The top of the Earth.

JOANNA
- I think you’re thinking of the North Pole.

STEVE
- Well we’re a little pressed for time, so–

JOANNA
 (heading for the door) – I’ll leave you guys alone.

STEVE
- Why?… do you want to leave when (you just said)–

JOANNA – (over) I’m going to check in with Hertzfeld. (to LISA)
We’re trying to get a computer to say hello but right now it’s being very shy. Would you come help me? (to CHRISANN) Is it okay?

CHRISANN – Sure.

STEVE (to JOANNA) – Thank you.

LISA (to JOANNA) – My dad named a computer after me.

STEVE – I’m not your–

Steve stops himself and sees the looks coming from both CHRISANN and JOANNA.

STEVE – (CONT’D) (pause) That, actually –do you know what a coincidence is, Lisa? Like if you met someone, if you made a new friend and her name was Lisa too, that would be a coincidence. Lisa stands for “Local Integrated System Architecture”. L-I-S-A. It’s a coincidence.

JOANNA – (pause) You about done?

STEVE – Yeah.

JOANNA – (to LISA) Come. Let’s make that computer say hi.

LISA’s still absorbing the “Lisa” information…

CHRISANN – Go ahead, Lisa.

LISA
- So it was the other way around. I was named after the computer?

STEVE
- Nothing was named after anybody, it’s a coincidence.

JOANNA – Come on, hon.

JOANNA and LISA exit.

E assim a música segue. Já coloquei esse link aqui, mas vai de novo. Uma aula de Sorkin. Também vale espiar esse pequeno vídeo e depois assistir a toda roundtable.

Um comentário em “Steve Jobs

Adicione o seu

Deixe um comentário

Blog no WordPress.com.

Acima ↑