O segredo do sucesso

santucci

Finalmente entendi. Há anos procuro alguma crítica mais profunda e didática que de uma vez por todas me explique (e me convença) os motivos do sucesso das comédias dirigidas pelo Roberto Santucci (De Pernas pro Ar, Até que a Sorte Nos Separe, O Candidato Honesto, Loucas pra Casar).

Geralmente os jornais publicam que os filmes são péssimos, com uma direção horrenda, história pífia e humor burocrático (pra dizer o mínimo). Eu mesmo lasquei o pau numa dessas obras (aqui) e tenho que admitir que só falei o óbvio.

Ao reler faz algum tempo um artigo da falecida crítica norte-americana Pauline Kael (aqui você encontra o texto), comecei uma cruzada particular (e insana) para tentar sacar as possíveis qualidades de Santucci – e de parte da comédia popular nacional.

Afinal, convenhamos, alguma coisa além do elenco ou do humor estilão Zorra Total essas produções devem possuir. Não é possível que os críticos estejam certos e milhões de brasileiros se enfiaram numa sala precária, pagaram caríssimo pelos seus combos de pipoca e refri só porque viram o comercial do filme no intervalo da novela.

Uma ida ao cinema exige muito mais do que simplesmente o anúncio no ponto de ônibus. Aliás, a cada dia as produções precisam fazer o impossível para tirar qualquer um de casa ou da frente do computador (e da TV, que ainda é melhor que o computador, mas esse é outro artigo).

Comecei a ver todos esses filmes, não apenas os do Santucci, mas também as películas (ou “os digitais”) envolvendo Paulo Gustavo, Porchat e as meninas perdidas num navio. Realmente a confusão só aumentou (e comecei a confundir todos os estilos e enredos).

Mas a luz se fez num perfil do Roberto Santucci escrito por Luiza Miguez e publicado na edição 112 da revista Piauí (com ilustração na capa de Temer e Cunha aos beijos realizada por Nadia Khuzina).

Na reportagem, lá pelas tantas, o diretor que mais levou gente aos cinemas para ver fitas nacionais nos últimos cinco anos explica “o sucesso de suas comédias com três dedos da mão direita:

– Dedo número 1: dois roteiristas da televisão aberta, Paulo Cursino e Marcelo Saback, com os quais diz ter aprendido a identificar o que o público brasileiro gosta de assistir.

– Dedo número 2: a sociedade com a Downtown, uma distribuidora que se dedica a investir exclusivamente no cinema nacional.

– E dedo número 3: a metodologia das pesquisas de audiência que conheceu em Hollywood”.

Bingo.

Sei lá se apenas três dedos do Santucci são capazes de dar conta do maior filão da história recente do cinema nacional, mas o cara começou falando sobre a importância dos roteiristas na obra dele, então compro essa explicação na hora.

O texto tem bons momentos para qualquer um que pense em um dia conceber um roteiro de longa-metragem nesse maltratado país (o trecho sobre o sucesso fundamental com o interior paulista é bem interessante).

Não estou mudando minha opinião sobre os trabalhos do Santucci, mas não conheço nenhum roteirista que não queira fazer sucesso.

E, vamos lá, o sujeito tem uma fórmula de três míseros dedos (fiquei encafifado com esse lance da mão direita, mas ok). Então, o negócio é olhar com atenção isso também.

Passo grande parte do dia sacando os motivos de erros e acertos do cinema de Hollywood. Quantos artigos já lemos sobre algum roteirista gringo e as modificações que fez no texto para seguir em frente ou como conseguiu atingir tal público?

Pois bem, quando um prata da casa se comunica com tanta gente, devemos mesmo procurar entender suas razões. Sei lá, eu penso assim.

Para balancear, essa entrevista com o Charlie Kaufman também ilustra os duros tempos que vivemos. O maluco que concebeu uma das melhores comédias românticas dos últimos 20 anos (Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças) fala sobre seus projetos, como teve que correr atrás de financiamento e a porrada que levou da HBO.

Estamos lascados, companheiros.

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