“Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo” e “Esquadrão Classe A” são dois filmes que – ainda bem – não se levam a sério.
Desde o princípio sabemos que vamos enfrentar duas horas de ação, meia dúzia de piadas e quatro ou cinco bons momentos.
O mais interessante, porém, é perceber que ambos apostam em “vilões internos”.
Tô aqui chutando, mas a capacidade destrutiva do último governo da família Bush parece ainda ecoar firme em Hollywood.
Da mesma maneira que o cinema norte-americano levou décadas para expurgar os erros e inconseqüências da Guerra do Vietnã, temos mais alguns anos pela frente de longas-metragens que tentarão explicar como o Bush Filho comandou o império por tanto tempo.
Os roteiristas não perdem uma vírgula na hora de cutucar a invasão do Iraque e as sucessivas trapalhadas domésticas do último governo.
Mesmo “Príncipe da Pérsia”, baseado em game de sucesso (a melhor adaptação de um jogo, dizem os entendidos), com uma ação passadista e personagens com o carimbo Disney, vira uma empolgante paródia aos motivos que levaram os EUA a arrancarem Saddam Hussein do poder.
Os atores usam turbantes, cavalgam pelo deserto e precisam invadir uma cidade sagrada em busca de um local que estaria produzindo armas de destruição em massa…
Sem estragar muito a história, logo descobrimos que o vilão é um santo de casa.
Esquecendo a esquisita sequência final, a rapaziada dá conta do recado e consegue deixar a história (e as piadas) correr.
E temos ali Alfred Molina e Ben Kingsley. O que não é pouca coisa.
Já o longa derivado da série dos anos 80 “Esquadrão Classe A” não traz nenhuma grande atuação (apesar que Liam Neeson imita bem o John Wayne), mas pra compensar mostra dois bons tiroteios, uma ação bacaninha em Bagdá e uma – essa sim totalmente esquisita – perseguição entre um tanque de guerra e alguns aviões. Detalhe: o tanque está caindo de pára-quedas.
E de novo descobrimos que a maldade, a vingança, vem de casa, dos próprios americanos.
Os árabes são apenas os bodes expiatórios da ganância de ianques infiltrados em poderosas agências de segurança (a CIA é tratada como uma sede da Casa da Mãe Joana).
Nessas horas, o negócio é cair na bandidagem e resolver as coisas com as próprias mãos.
Curiosidade (e spoiler): um dos roteiristas do filme interpreta um dos vilões.
As duas adaptações apontam na mesma direção: não confie no governo, caras! Se for o americano então… Danou-se.
Pode apostar que a ferida ainda está aberta.
A esperança – promovida pelo Obama – de encontrarmos uma classe política esclarecida e digna ainda não chegou com força aos cinemas.

Adorei André
Não conhecia o blog, agora passarei a segui-lo.
Genial, limpido e agradavel de ler esse texto.
Boa sorte.
Beijo
Soraya
Ueba. Valeu, Soraya. Beijo.
Perspicaz o seu ponto de vista (de roteirista). Muito bom de ler mesmo esse último. Bacio