Roteirizar e editar um trailer deve ser como desenhar uma nova cadeira ou luminária. É um trabalho de artesão, de designer.
Você tem que criar algo elegante, funcional, prático, bonito, útil, desejável… E ainda dar um toque especial, deixar uma marca.
Não dá para inventar a roda, mas vale colocar um aro bacana, jogar um charme na circunferência, mostrar a utilidade do negócio todo.
É um trabalhinho complicado. Mas muita gente acerta.
Sempre gostei de trailers. Se exibirem uns dez antes do filme, não me incomodo.
Acho que é o Cinemark que projeta gratuitamente na hora do almoço
uma sessão apenas com trailers.
Há uma linguagem própria, um desafio exclusivo quando temos que pensar num roteiro de uma boa peça promocional.
Uma das melhores em cartaz é a de “The Social Network”, novo filme de David Fincher.
Ele parte de uma grande sacada: o uso da música “Creep”, do Radiohead, cantada por um coro que deixa a canção mais melancólica que o litoral gaúcho no inverno.
Certamente você nunca mais olhará o Facebook com a mesma ingenuidade.
http://www.youtube.com/watch?v=EnamMtQs1fI
O trailer de “Alien – O Oitavo Passageiro” (1979), de Ridley Scott, é outra obra-prima – e considerado por muitas listas como o melhor de todos os tempos.
Ele usa a trilha sonora para ocultar informações e sugerir um clima arrepiante.
Há poucos dados e muito terror.
Certamente não atinge todo o tipo de público (dificilmente quem não gosta de ficção e horror entraria numa sessão de “Alien” depois de ver o trailer), mas arrebata qualquer um que goste de sentir pânico nas salas.
http://www.youtube.com/watch?v=ojhGdRSkiUw
E para promover “Psicose” (1960), nada como ouvir a história de quem mais entende da parada: o próprio diretor.
Hitchcock construiu uma peça clássica, esquisita, que destrói a quarta parede e nos deixa com outro tipo de curiosidade em relação ao filme.
http://www.youtube.com/watch?v=MdxNmvXusM0
Vale a pena dar uma espiada no novo filme de Godard, “Film Socialisme”. O trailer contém absolutamente todas as cenas do longa.
Apertando o flashforward, Godard não edita nada, apenas parece mostrar que o mundo realmente anda rápido demais.
E o cinema pode ainda ser um bom lugar pra gente escapar desse frenesi por algumas horas.
E esse “The Social Network”? É impressionante mesmo como a indústria de cinema dos caras consegue estar na cola dos “current affairs”. E “Creep” foi um mega-acerto…
Disse bem: indústria. O que temos por aqui? Sei lá, mas indústria não é não. Bjs.