“Se Beber, Não Case 2” faz humor inteligente

“Um macaco chupando o pinto de um monge é engraçado em qualquer língua/lugar.” É mais ou menos isto que Alan (Zach Galifianakis) diz quase olhando para a câmera em uma cena de Se Beber, Não Case 2. O recado da nova franquia está nessa frase: existem coisas cômicas universais. Danem-se os princípios, a correção social ou a espada de governantes de péssimo humor. A comédia tem uma estrutura sólida e, quando bem planejada, infalível.

O humorista Rafinha Bastos gosta de repetir que nenhuma piada – mesmo que elaborada por anos pelo Seinfeld – consegue ser mais precisa em provocar risadas do que um belo peido. É o mesmo mote ditado pelo engraçadíssimo Se Beber, Não Case 2, filme ideal para ornamentar a atual discussão sobre os limites do humor (zzzzz) que pauta a imprensa nacional.

Rafinha, Danilo Gentili e Marcelo Adnet se enfiaram numa situação um tanto esquisita nas últimas semanas. Tão estranha que um gringo não entenderia. Todos fizeram piadas consideradas polêmicas e, tirando Rafinha, pediram desculpas se ofenderam alguém com seus chistes.

Pelo santo Groucho Marx! Quer dizer que agora a turma implora perdão por uma linha cômica qualquer? Então o Todd Phillips, diretor de Se Beber, Não Case 2, deve passar o resto de seus dias distribuindo desculpas por aí.

Em seu novo longa, há incontáveis baixarias e sacanagens em cima de travecos, asiáticos, budistas, crianças, mulheres, prostitutas, traficantes, elefantes, macacos, Mike Tyson, retardados, policiais etc. e tal. E monges! Por Buda, monges! Se a coisa era pesada em Las Vegas (palco do primeiro filme), imaginem na Tailândia (para onde a trupe se manda no episódio recente).

A história segue a mesma toada de Se Beber, Não Case 1. Uma turma de amigos toma uma dose generosa de “acorda, cinderela”, apronta todas e desperta num hotel misterioso – tendo que reconstituir a noite e buscar alguém que desapareceu.

A aposta é alta, pois o roteiro é quase uma refilmagem em Bangoc. Sem contar com os elementos surpresas de uma narrativa ousada e caprichada, os roteiristas optaram por jogar as piadas lá em cima e esquecer qualquer bom senso. E não é que o filme funciona?

Na falta de originalidade, o negócio foi realçar a escatologia, a metralhadora verbal e a baixaria. É como assistir ao Pânico nos bons tempos.

Todos os personagens receberam uma enorme dose de bobagem. Mr. Chow (Ken Jeong – já um clássico) tem o mamilo chupado por um macaco na primeira sequência em que aparece; Stu (Ed Helms) não perde o dente, mas deixa pra trás algo ainda mais valioso; Alan é o próprio Dustin Hoffman em Rain Man, só que sem saber fazer contas; Phil (Bradley Cooper) não consegue colocar ordem na turma; e ainda temos Paul Giamatti como Kingsley, um trafica psicopata.

São sucessivas cenas imbecis e hilárias, envolvendo todo o tipo de porcaria e grosseria. Na cabine de imprensa para os críticos, todos riram e pegaram os brindes distribuídos na saída. Mas parte reclamou da obra, afirmando que nada ali surpreende.

Vamos esperar pelos comentários. Muitos coleguinhas adoram publicar que acharam determinado filme uma merda, mas esquecem de dizer que se divertiram horrores na exibição. Vai entender.

Se Beber, Não Case 2 certamente vai cair naquela vala de obras consideradas “burras”. Alguém inventou o tal “humor inteligente”… Então, deve existir o “humor estúpido”, certo? Errado. Existem coisas engraçadas ou não. E só. O resto é balela de polemista do Twitter.

Humor inteligente é aquele que funciona. Então, Se Beber, Não Case 2 é inteligente pra cacete. Ou você não acha que um macaco fumante e traficante pode ser bem engraçado?

UMA SACANAGEM

Piratas do Caribe 4 vale por diversas sequências com sereias – e, claro, por Johnny Depp. O produtor da série, Jerry Bruckheimer, é bilionário e irônico; um sujeito que não discute se tal coisa é politicamente correta ou não – mas apenas se dá grana ou não.

Não se levar a sério parece ser um patamar meio inalcançável para as celebridades brasileiras. Quando Eike Batista vai zoar o fato de todos dizerem que ele usa peruca? Ou em que momento Gianecchini vai aparecer na imprensa com um vestido sacaneando todos que falam que ele é gay?

Bem, Jerry Bruckheimer tem muito dinheiro, poder e sabe rir disso tudo. Aí está a diferença entre aqueles que sacaram o espírito de uma época e os tontos. Parece que Jerry não vai processar ninguém envolvido no vídeo abaixo.

Deixe um comentário

Blog no WordPress.com.

Acima ↑