O jornalismo – ou o que restou dele – entrou em pauta recentemente por causa de duas estréias televisivas. Forçando um tanto a barra, acho que os novos programas de Fátima Bernardes e Will McAvoy dizem muito sobre a imprensa brasileira e norte-americana, respectivamente.
A mulher do Bonner agora tem um encontro matutino com os telespectadores globais. Cansada da notícia, ela resolveu dar uma renovada no seu papel de jornalista. Na verdade, agora Fátima é apresentadora. Então pode declarar seu amor a certos produtos, buscar emocionar as pessoas e bater um papo descontraído com a galera. Seria uma Ana Maria Braga mais cabeça.
Ora, e não é que ela segue a ordem natural das coisas? O que a gente mais vê por aqui é o sucateamento do jornalismo, a cosmetização da notícia; usando uma definição que o escritor Jonathan Franzen utilizou para descrever o papel da mídia na cobertura do Onze de Setembro, há uma “desastrosa sentimentalização do discurso público”. Nada importa mais do que uma historinha pessoal, uma banalidade qualquer. Análises profundas e tomadas de posição “são coisas chatas”, que não atraem o público (sim, continuamos na era em que tudo é para essa estranha entidade denominada “público”).
William Bonner um dia disse que o Jornal Nacional era feito para o Homer Simpson, para aquele sujeito mediano (e, convenhamos, levemente idiota). Pois bem, Fátima parece querer competir com o maridão. Ambos continuam atrás do Homer. Um à noite; a outra logo cedo.
Com Will McAvoy as coisas são diferentes – até porque ele não existe. McAvoy é âncora de um telejornal norte-americano das oito em The Newsroom, nova série da HBO criada por Aaron Sorkin (The West Wing e Studio 60 on the Sunset Strip).
Nada poderia ser mais anti-Fátima. Começando pela abertura, que mostra imagens dos sagrados Murrow e Cronkite, e seguindo pelos intermináveis discursos éticos dos personagens, The Newsroom é um grito de socorro, um apelo desesperado para que a imprensa dos EUA volte a ser relevante, quixotesca e séria – e ofereça uma banana para o Homer.
Interpretado por Jeff Daniels, o âncora se mostra irascível e numa fase bunda mole. Chamado de Jay Leno do noticiário, ele agora quer tomar posições e também fazer a sua guinada. Mas ao contrário de Fátima, ele quer ser mais jornalista e menos animador de auditório.
Temos todo o ambiente sorkiniano explodindo em cada cena. Os diálogos são espertos, recheados de citações e sacadas (tantas que enjoam); há um romantismo permeando cada relação; os estereótipos aparecem sem cerimônia, do figurino até a música; e as farpas trocadas entre os casais lembram os bons momentos de uma screwball comedy.
Infelizmente, pelo menos no primeiro episódio, a reiteração das idéias e o tom naif deixam a série tão discursiva que não empolga. Como disse a crítica do The New York Times, Sorkin diz as coisas certas, mas da maneira errada.
Uma coisa The Newsroom cumpre com eficiência: é uma baita homenagem para quem acredita que o jornalismo pode mudar o estado das coisas – ou no mínimo dar uma chacoalhadinha no sistema. E fazer isso dá um trabalho do cão – e pode incomodar bastante o tal público.
Seria bacana fazer um debate entre McAvoy e Fátima. Cada um defendendo seu tipo de jornalismo. Mais legal ainda seria se a gente produzisse uma série sobre o Jornal Nacional. Mas aí eu estou sendo tão quixotesco quanto os personagens de The Newsroom.
Fechando para todo mundo entender – até o Homer: com todos os problemas de seu primeiro episódio, eu prefiro deixar a Fátima falando sozinha e ter um encontro com o Will McAvoy.

Adorei o texto. Como boa amante de ótimas séries já sei que vou adorar The Newsroom, que promete prender a nossa atenção com um contexto muito diferente das séries atuais, onde o âncora de um programa jornalístico traz conteúdo político polêmico e opinativo. Estou ansiosa pela estréia.
Esta serie es genial, yo estudio periodismo y me encanta verla, me gusta en especial el personaje de Will McAvoy , es súper interesante.
Eu gosto muito também. No próximo domingo, 9 de novembro, começa a última temporada. Abs.