“Looper”: o bom cinema resiste

Não comungo da opinião – hoje bastante difundida e aceita – de que o cinema está na sua pior fase, só com porcarias nas telas. Tem uma turma até bem fatalista, acreditando que o fim do mundo já começou em Hollywood. Para eles, a questão ultrapassou a mera nostalgia; é uma constatação científica: não tem mais filme (principalmente aquele chamado de “entretenimento”) bom e pronto.

Duvido um pouco desse diagnóstico. Fico com o Paul Schrader, que em entrevistas tem comentado que a crise é de formato, mas não de ideias. Claro, a indústria está aprendendo a conviver com internet, TV de alta qualidade, mundo globalizado, memes e sei lá mais o quê. O bicho está pegando e não existe um produtor hoje que consiga dormir tranquilamente (dêem uma espiada no bacanudo Mainstream, livro de Frédéric Martel, para entender mais sobre o negócio do entretenimento).

Enquanto isso, coisas boas e enormes porcarias são jogadas no circuito diariamente (como, aliás, sempre foi, ou vocês acham que não existiam bombas nos anos 40?).

Afinal, estamos aqui falando de um treco – o cinema – que tem pouco mais de cem anos, que dominou um século todo, que transformou, literalmente, nossa visão de mundo. Então tem muito chão pra queimar ainda – e muitos erros para cometer.

Porém, até outro dia eu estava bem desanimado com este 2012 e quase caí num papo maia, mais mórbido, pensando mesmo em decretar um estado de coma da sétima arte e voltar para o teatro ou para o jogo de tranca.

Mas aí aparece um Looper e a gente se anima.

E esse longa-metragem do Rian Johnson é uma belezura de cinema, uma prova incontestável que dá para tirar muito leite dessa pedra que é Hollywood.

Quando a gente achava que seria impossível fazer alguma coisa decente misturando O Exterminador do Futuro, A Profecia, Blade Runner, 12 Macacos, De Volta Para o Futuro, X-Men e mais umas trocentas referências, o Rian vem com um roteirinho bem esperto, surpreendente, cheio de reviravoltas, bons diálogos e uma sacada genial: Joseph Gordon-Levitt interpreta um jovem Bruce Willis.

Então temos metalinguagem, violência (bastante), motos voadoras, armas carregadas de fetiche, o velho Bruce atirando pra todo lado, algum romance com a Emily Blunt e uma criança demoníaca. E tudo bem explicadinho e com cenas esquisitonas, em boates decadentes, com cara de filme B porreta do John Carpenter.

Claro que não dá para você ficar procurando furos no roteiro. Mexer com viagem no tempo, multiverso etc. é uma delícia, mas pode te deixar loucão.

Tanto que o Bruce Willis explica isso para ele mesmo no passado (eu sei, a frase é estranha, mas está correta). Num ótimo diálogo numa lanchonete, o herói fala para não se preocuparem muito com esse papo de viagem no tempo porque é complicado demais. Melhor relaxar e gozar porque a trama toda tem coerência, ótimas atuações e emoção.

Um bom show, sem dúvida, que recicla tanta coisa e ainda assim consegue chapiscar originalidade num gênero complicado.

Por enquanto, das ficções científicas deste ano, Looper fica com muitos méritos no primeiro lugar, seguido da primeira hora de Prometheus e de todo o The Avengers (MIB3 também é bem razoável).

Apesar de relatar um futuro tenebroso, Looper coloca fé na imagem e no cinema.

Afinal, a Voyager anda pelo espaço levando nossas cenas. Então, o mundo pode até acabar, mas pelo visto o cinema continua sua jornada.

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