“Uma Aventura Lego” é um filmaço

lego

No meio da correria pra ver todos os filmes “sérios” do Oscar, a gente tem que encontrar tempo para conferir Uma Aventura Lego, um desses filmaços que nos estimulam a ir ao cinema várias vezes para rever todos os detalhes.

É estranho escrever com tanto entusiasmo sobre algo criado explicitamente para excitar o mercado. E ainda colocá-lo acima de obras “mais artísticas”. Mas, podem acreditar, as imagens com os bonequinhos de plástico falam mais sobre a beleza do cinema do que 90% das coisas que assistimos por aí.

Por vezes, sentado numa poltrona de couro e invadido pelo gelo do ar-condicionado, eu quase tive aquela sensação de estar diante do sublime. Isso porque me via aturdido com a capacidade técnica da realização enquanto sentia vergonha por estar me divertindo numa segunda à tarde num filme para crianças. Isso tudo embalado pela vertiginosa ação e sacudido pelas referências pop. Não é toda hora que esse jogo de emoções aparece, não.

Algo deu muito certo em Uma Aventura Lego.

Verdade que eu senti esse mesmo espanto (gostar de algo aparentemente feito apenas para arrecadar grana) quando vi Pacific Rim, um dos mais injustiçados blockbusters do ano passado. Sinceramente, jamais pensei que gostaria de ver lutinha de robôs na água. Só que o filme de Guillermo del Toro é tão interessante visualmente que saí da sala fazendo aquela coreografia maluca dos sujeitos que vestiam as máquinas.

E agora esses divertidos e revolucionários Legos. Inconformistas, os danados pregam o fim do sistema. Em tempos de confusos black blocs, os diretores e roteiristas Phil Lord e Christopher Miller nos mostram como sair da inércia usando outros tipos de manifestações (e blocos).

O treco é realmente sensacional. Como disseram por aí, é um filme… comunista, socialista, crítico, sei lá. Há muita política reverberando em cada cena planejada por esses malucos – e filosofia também, não me espantaria se inventassem um Lego com a fuça do Slavoj Zizek.

A sinopse já entrega o ouro: um operário padrão encontra um artefato que pode virar de cabeça pra baixo a vidinha perfeita de todos os bonecos do planeta e destruir o irritadiço Senhor Negócios, uma espécie de rainha da Inglaterra com o poder do Obama e o mau gosto do Donald Trump.

A linha narrativa segue o pique de Matrix, já que O Escolhido acorda de um sonho bom e mergulha no pesadelo revolucionário (meio sem querer e duvidando de seus poderes).

E quem ajuda nosso herói? Uma garota linda e sapeca (Megaestilo), mas que namora o Batman (sim, o próprio) e uma penca de personagens da ficção – toda uma turma da DC Comics, Guerra nas Estrelas, Senhor dos Anéis e outros doidos.

Se isso não te deixar curioso, vale a pena mencionar que a mistura de stop-motion (as labaredas e ondas do mar são de Lego!) com animação digital em 3D nos mostram que a humanidade não deu tão errado assim.

Lord e Miller, que antes fizeram Tá Chovendo Hambúrguer e Anjos da Lei, mostram aquela rara capacidade de alternar muita ação (mesmo, muita ação) com piadas e personagens bem desenvolvidos. Eu não sei como conseguem. Quer dizer, até sei, deve ter dado um trabalho desgraçado.

São quase duas horas sem barriga, com reviravoltas surpreendentes e um terço final espetacular.

Porque quando você está lá, no auge da angústia, se achando meio bobo por ver profundidade no entretenimento, gente de carne e osso aparece para mudar toda a trama e colocar ainda mais inteligência no caldo.

Outros adultos gostaram também, hein. Fiquei entusiasmado, mas vejam o que dizem esses camaradas:

The Atlantic

Roger Ebert

Atenção: tente ver uma cópia legendada, pois a dublagem está meio capenga e derruba diversas piadas (além de estragar a edição de som).

Uma aventura e tanto.

Um comentário em ““Uma Aventura Lego” é um filmaço

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  1. Muito divertida! Uma história de animação que é muito vale. Além disso, o negócio é outro ponto a destacar, por exemplo, a participação do ator Will Arnett , que tem sido parte da mesma como fitas de outras crianças. De qualquer forma, eu recomendo-lo.

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