1 A quarta e mais recente temporada de Homeland nos joga na cara a terrível questão: quando abandonar de vez uma série? Porque tudo parecia perdido e eu já tinha riscado o título do caderninho. Mas os últimos episódios resgataram aquele frisson de anos atrás e o de número 6 (From A to B and Back Again) da atual safra trouxe alguns dos melhores momentos de suspense e choque do ano. Quando Carrie Mathison se aproxima do estilão “sem coração” de Jack Bauer, a coisa realmente engrena e a bomba-relógio surge precisa e explosiva. Eu tinha desistido daquele mimimi amoroso no meio da segunda temporada. Pulei uns capítulos da terceira e li resumos só pra me atualizar e encarar a quarta, que por enquanto tem valido – e muito – o esforço. Homeland entrou nessa categoria de séries irregulares, mas indispensáveis.
2 Já The Newsroom segue como uma espécie de Guido Mantega das séries: está no ar, mas com os dias contados. Serão apenas seis derradeiros episódios nesta terceira temporada. Uma pena. Aaron Sorkin, o autor, presta um inestimável serviço para a memória do nosso tempo ao remontar episódios recentes da história norte-americana. O episódio sobre o atentado durante a maratona de Boston tem ótimos lances jornalísticos e parece recriar com alguma fidelidade as implicações políticas da tragédia. Tudo isso recheado com flertes, piadinhas bem sacadas e referências bregas (e chiques). Além disso, há esse elenco espetacular, bem entrosado, e o show do casal Jeff Daniels e Emily Mortimer. A gente se sente meio bobo e meio inteligente a cada minuto de The Newsroom.
3 Das três cinebiografias recentes de personagens da cultura popular brasileira, Trinta tem disparado o melhor roteiro (e trata justamente do menos conhecido entre os jovens). Os filmes sobre Paulo Coelho e Tim Maia apostam num apanhado geral e num show de esquetes. A sorte deles é contar com um elenco extraordinário, mostrando que o Brasil não enfrenta escassez de ótimos atores. Parece ser difícil encontrar um, mas os longas acharam dois “Paulo Coelho” e dois “Tim Maia” espetaculares. Matheus Natchtergaele é único como Joãosinho Trinta, trazendo doçura, loucura e energia em iguais medidas. A idéia de narrar a formação do carnavalesco concentrando as ações no barracão, nos bastidores da maior festa nacional, gera curiosidade e interesse. Um filme que abre possibilidades para que novos registros e recortes surjam para personalidades brasileiras (até mesmo outras sobre o próprio Joãosinho). Neste ano tivemos duas aproximações de Yves Saint Laurent, o estilista francês. Por que não um filme decente sobre Paulo Coelho, desta vez só narrando o lado espiritual? Ou um roteiro mostrando com alguma profundidade e delicadeza a piração racional que fez Tim Maia produzir seu melhor disco?
4 Não entendi muito bem essa crítica de Inácio Araújo sobre Trinta (ou compreendi, mas não concordo; de qualquer maneira, alguém mais competente poderia responder a algumas questões patrocinadas pelo sempre pertinente crítico). Ele parece comentar tudo o que não está no filme. Mas o que chama a atenção mesmo é a comparação com o bom Relatos Selvagens. O roteirista Fernando Castets, num debate recente, comentou que talvez os brasileiros mitifiquem o cinema argentino porque a gente não assiste a todo o cinema argentino. Bingo. Deve haver uma boa quantidade de porcarias também na vizinhança. Apesar de me divertir bastante com Relatos Selvagens, não acho que tenha a invenção e a pertinência de tantos filmes brasileiros deste ano. Na verdade, esse lance de “filme argentino melhor do que brasileiro” saiu de moda.
5 Quer dizer, talvez na construção de roteiros cômicos, os argentinos atuem com mais inteligência. O humor de Relatos Selvagens é perspicaz e visual, buscando sempre um ajuste fora do senso comum. Como mencionou Inácio Araújo, o filme “consegue fazer humor ao mesmo tempo em que está todo atravessado pelas inúmeras tensões da sociedade argentina”. Neste artigo de Richard Brody na New Yorker encontramos diversas situações sobre o humor cinematográfico. Quantas imagens dessas conseguimos produzir com as comédias nacionais nos últimos cinco, dez anos? Não há uma imagem (além da figura dos atores) que entrará para a história nesses blockbusters da tal “globochanchada”. Ok, eles se contentam com isso. Mas e nós?
6 Abaixo, piloto de Orson Welles para a TV norte-americana realizado em 1956, mas exibido só uma vez em 58. Precisa falar alguma coisa?

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