Após uns dez minutos de Depois da Terra, o novo filme de Will Smith (pena, mas não dá pra falar que é o mais recente de M. Night Shaymalan), eu achei que só aquele visual de garrafa pet e a decoração náutica seriam o grande problema da obra.
Mas logo descobrimos que vamos passar uma hora com um dos personagens mais pentelhos dos últimos anos – e como só existem dois no filme, imaginem o quanto ele enche o saco.
Não estou me referindo ao Jaden Smith, que é e interpreta o filho de Will Smith. Mas sim do próprio Will, um general do futuro que mata alienígenas e protege o que restou da raça humana.
Dizem que Will ligou para Shaymalan e em 45 segundos contou a história de Depois da Terra. O diretor indiano gostou e comentou que queria fazer aquele filme (o “vai pagar quanto?” foi omitido da reportagem).
Na verdade, o enredo dura até menos. Em quanto tempo podemos falar esse resumo: “Pai e filho caem na Terra daqui a centenas de anos, quando o planeta já não tem condições de abrigar a vida humana. A partir daí, vivem aventuras enquanto esperam o resgate”.
Um fiapo de sinopse nunca impediu bons filmes. O que temos em Depois da Terra é um confronto de Jaden Smith com a natureza novamente selvagem. Jaden tem que crescer, sobreviver sozinho no mato, criar coragem para enfrentar bichos nojentos e perigosos, provar que é capaz – se igualar e até superar o pai, enfim.
Nem precisamos ir tão longe. Sem esse drama paterno e firulas psicológicas, Herzog colocou Christian Bale se virando na floresta por duas horas e tirou daí O Sobrevivente.
Aliás, Will Smith procurou o estrangeiro errado. Tinha que ter pensado no Herzog para colocar algum sal nessa brincadeira.
Shaymalan simplesmente não consegue trabalhar nenhum personagem. E mais: não produz surpresas, não consegue avançar com a fábula, parece preso no rosto inexpressivo – mas esforçado – de Jaden. Não precisamos ser muito espertos para dizer que Jaden não segura um filme ainda.
Mas não vale a pena tentar encaixar esse longa na carreira do excelente Shaymalan – eu gosto até de Fim dos Tempos e A Dama na Água. O que não vai me sair da cabeça é a figura do Will Smith narrando o filme, comentando toda cena, como se fosse alguém da plateia.
Eu gritei umas cinco vezes um sonoro “psiuuu” para a tela. A partir de determinado momento – e é logo -, Will tem alguns probleminhas e passa apenas a observar Jaden pelo circuito de câmeras. É um personagem que chamamos de passivo – um dos mais perigosos da dramaturgia.
Ele simplesmente não serve pra nada, não consegue mover a história, não participa ativamente da trama. Num drama, em filmes independentes, em muitos casos a coisa funciona como alívio cômico ou mesmo reforça a intenção da trama.
Mas num filme de ação? E é o Will Smith, caramba!
Ele deve ter filmado na casa dele, tamanha imobilidade.
Aí ficamos ali, embasbacados com tamanha nulidade. O pai com a bunda na poltrona xingando a TV que mostra as aventuras do filhão numa floresta sem nenhum encantamento.
Que programa. Poderia ser um reality show da família Smith.
Bem esquisito.

Eu amei o filme todo, especialmente aqueles momentos de intriga onde Jaden Smith deixa você sem fôlego, para lutar contra as criaturas, mostrado como um grande ator, eu adorei.